
Foi numa dessas manhãs sem sol que percebi o
quanto já estava dentro do que não suspeitava.
E a tal ponto que tive a certeza súbita que não
conseguiria mais sair. Não sabia até que ponto
isso seria bom ou mau — mas de qualquer forma
não conseguia definir o que se fez quando comecei
a perceber as lembranças espatifadas pelo quarto.
Não que houvesse fotografias ou qualquer coisa
de muito concreto — certamente havia o concreto
em algumas roupas, uma escova de dentes, alguns
discos, um livro: as miudezas se amontoavam pelos
cantos. Mas o que marcava e pesava mais era o intangível.
Caio Fernando Abreu
Nenhum comentário:
Postar um comentário